quinta-feira, 16 de abril de 2009

Dois



A primeira vez que eu vi Otavio foi algo muito estranho. Era uma tarde de domingo e eu resolvi ir ao cinema sozinha. Nunca tinha feito isso, eu sentia até um pouco de receio. Ir sozinha ao cinema? Coisa de gente louca.

No cinema a sala que entrei estava completamente vazia, alguns minutos depois ele entrou. Otávio ficou sentado muito longe de mim. Depois de cinco minutos o filme começou, só que mais ninguém entrou na sala. Ótimo. Solidão era tudo o que eu precisava. E ficamos sós até o final do filme e em nenhum momento durante a sessão trocamos palavras.

Na saída ele veio brincar comigo:
“Nossa sessão de cinema VIP?” “ Chiquérrimo , hein.”
Eu sorri e só. Sinceramente não vi graça alguma, aquele cabelo bagunçado, uma roupa meio estranha. Definitivamente nada a ver comigo.

Fui comer. Depois de algum tempo sentada ele apareceu novamente, sentou na minha mesa sem ao menos pedir permissão. Lógico que fiquei muito irritada,mas deixei ele sentar, afinal estava cansada de ficar sozinha.

Conversamos um pouco, falamos sobre o filme, sobre nossa vida,realmente foi uma conversa super legal. E o mais legal é que em nenhum momento ele falou beijar, ficar essas coisas.

Quando me levantei para ir embora ele pediu o número do meu telefone, disse que havia gostado de conversar comigo e queria ser meu amigo. Eu passei o número. Com certeza foi um momento de impulso, sempre fui muito cautelosa em relação a isso.

Fui embora e no caminho de volta pra casa fiquei pensando no meu dia, em tudo que havia feito, principalmente em Otávio.Não que eu estivesse interessada nele,apenas gostei de estar perto dele.

Um


Por que você nunca sente o que eu sinto?” Ele me perguntou.

Fiquei parada, pensando, não respondi aquela pergunta e para falar a verdade eu nem sei o porquê.

Alguns dias depois estávamos deitados no sofá assistindo um filme e do nada ele me disse:

“Eu me sinto como você se sente”. Por um momento achei que ele estivesse louco, o filme era uma comedia, então eu deveria estar sorrindo, mas não era o que acontecia.Eu estava longe mergulhando em meus pensamentos.

Naquele momento muitas coisas se passaram pela minha cabeça, para ser mais sincera uma análise do nosso relacionamento.

Então perguntei:

“ Otávio como você se sente agora?”

“ Sozinho”. Ele me respondeu.

Não entendi porquê, mas me deu um ataque de riso, achei incrível. Ele realmente sentia o mesmo que eu.Eu, lógico não disse a verdade a ele,não sei o motivo, talvez tenha sido por medo de iniciar um ‘DR”.

Hoje depois de um ano eu penso :"Se eu tivesse falado a verdade, talvez Otavio ainda estivesse ao meu lado."