quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Seis

Ele.


Sinceramente eu desacreditei quando a vi. Ali. Parada. Com uma cara de assustada e com aquele olhar que só ela sabia me dar quando estava brava. 

Bem, eu a achei bem louca. Nós tínhamos um acordo. U-m-a-c-o-r-do! Droga! Será que ela não sabia o que significava um acordo? Eu odiava isso nela. A forma como ela era teimosa e simplesmente não dava a mínima para as coisas que a gente combinava. 

Mas no fundo eu a amava. E muito. Realmente estava difícil manter esse acordo sem palavras. Eu queria ligar pra ela, mas depois que atendi aquele telefonema sinceramente não sabia se ela queria falar comigo novamente. Eu a fiz de palhaça. Eu a deixei ali, plantada feito uma idiota, enquanto tentava fazer com as coisas dessem certo. Eu sei. Eu poderia ter dito a verdade no momento em que ela me perguntou, mas não tive coragem. Sou um covarde.

Desde o dia que a vi assistindo aquele filme sozinha ela sempre me intimidou. Ela era tão confiante e cheia de si. Uma menina segura, demais até pro meu gosto. Fiquei o filme todo a observando e ela nem percebeu. Aquele dia realmente foi um dos mais felizes pra mim. Eu adorava observá-la. Era prazeroso, me trazia paz. Ela era a visão mais linda que eu tinha na vida.

Me lembro quando ela me perguntou o que aconteceria com a nossa relação. Ela sempre parecia tão insegura quanto a nós, talvez isso fosse culpa minha por não deixa-la segura em relação aos meus sentimentos. A verdade é que eu sempre a amei, mas não tinha coragem de dizer. Eu quero ficar com ela pra sempre, mas não pude demonstrar. Acho que tinha mais medo do que ela.

Tenho coisas inacabadas na minha vida. A verdade é que andei por caminhos tortuosos e agora estou tentando me reerguer. Conheci algumas pessoas que prometeram me ajudar, mas está tão difícil. Eles falam cada coisa pra mim. Coisas que parecem não existir. E enquanto eu não me resolver não posso voltar pra ela, minha intenção era permanecer com o acordo até resolver tudo, queria voltar pra ela inteiro, diferente e leva-la para essa nova vida comigo. Eu queria que ela estivesse sempre ao meu lado.

Mas quando a vi tapando a boca para não gritar quando  me viu daquele jeito, logo imaginei que estava tudo acabado.






sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Cinco


Você já teve a sensação de ter o chão se abrindo abaixo de seus pés? Eu já tive e não foi muito boa.

Eu realmente achava que conhecia o Otávio, eu achava que depois de algum tempo juntos poderia declarar claramente que o conhecia, o que eu não contava era que estava completamente errada.

Poxa! Eu gostava dele. Eu sentia sua falta e por muito tempo me segurei para dizer. Eu realmente quis mostrar que não sentia nada, que ele não significava nada pra mim, mas só pra variar, eu não consegui.  Então  criei coragem e fui até ele.

Lembro que naquele dia eu acordei decidida a acabar com o acordo sem palavras. Eu me preparei, ensaiei várias vezes a minha fala. Por mais que eu não precisasse dizer nada ( Otávio me conhecia  muito bem), nada mais justo do que acabar um acordo sem palavras com muitas palavras. Me sentia patética em frente ao espelho repetindo tudo que queria dizer pra ele. Muito idiota eu.

Coloquei a calça que ele mais gostava que eu usasse, dizem que falamos através da roupa, e realmente eu queria dizer, aliás, eu queria muito dizer que o queria de volta. E não aceitaria um não como resposta. 

Saí de casa totalmente confiante, eu estava de salto e andava tão segura como se estivesse de tênis. O que o amor faz com uma pessoa. Mas o que eu não imaginava era que dali a poucos minutos  eu quase cairia de cima dos meus saltos. Já sentiu sua segurança caindo pelos ralos? Novamente, eu senti e não foi muito legal. 

Encontrar Otávio daquela maneira não foi o que eu esperava para aquele dia. Quando eu lembrei do telefonema não pude imaginar que seria aquele o motivo, eu imaginava tudo, tudo mesmo, mas não aquilo. Ele estava todo sujo e bem machucado. Sua camisa branca estava marrom e seu cabelo, que era tão lindo e estava sempre tão bem arrumado, naquele momento estava parecendo que nunca tinha visto um pente.

Eu arranquei meus sapatos e saí correndo. Definitivamente não foi essa entrada triunfal que imaginei para o término do acordo sem palavras.Enquanto corria eu gritava, gritava e muito, era impossível que Otávio não tivesse percebido que o acordo tinha terminado, ele me olhou com um olhar tão desesperado que só conseguiu dizer "você" e apagou.

E eu quase apaguei junto.